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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Mario Quintana
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mário Quintana
Luz
Luz que banha, fortalece, anima,
luz que traz vida a todos os seres.
Um ser sem luz, é um ser apagado, morto.
Quando olhamos para esta árvore no alto da montanha,
podemos imaginar que após absorver o orvalho da noite,
ela espera ansiosa pela luz do amanhecer,
ela espera que os raios do sol a cubram por completo,
com o seu calor, raios de calor que dão vida,
que nutrem, que fortalecem,
raios que são capazes de manter esta árvore de pé.
Conforme as horas vão passando,
o calor aumenta e esta árvore começa a pensar
no orvalho que vai cair durante a noite,
orvalho este que vai umedecer os seus galhos e folhas,
fazendo com que no final da noite,
ela volte a pensar no novo dia que vai
amanhecer com seus raios solares.
Assim, como esta árvore, somos nós, durante a noite,
recebemos o orvalho dos anjos enquanto dormimos,
nosso ser voa para lugares que só
existem dentro de nossa imaginação,
e quando acordamos,
estamos prontos para receber os raios do sol,
com esperanças renovadas de que somos
capazes de realizar nossos sonhos,
mesmo que muitos deles pareçam estar distantes,
mas o importante é sabermos que estes sonhos,
nos trarão vida, porque não existe nada mais importante,
do que nos sentirmos vivos.
Mundo Interior
Mundo Interior
de Machado de Assis
Ouço que a natureza é uma lauda eterna
De pompa, de fulgor, de movimento e lida,
Uma escala de luz, uma escala de vida
De sol à ínfima luzerna.
Ouço que a natureza, – a natureza externa, -
Tem o olhar que namora e o gesto que intimida,
Feiticeira que ceva uma hidra de Lerna
Entre as flores da bela Armida.
E contudo, se fecho os olhos, e mergulho
Dentro de mim, vejo à luz de outro sol, outro abismo
Em que um mundo mais vasto, armado de outro orgulho,
Rola a vida imortal e o eterno cataclismo,
E, como o outro, guarda em seu âmbito enorme,
Um segredo que atrai, que desafia, – e dorme.
Ouvir Estrelas (Olavo Bilac)
Ouvir Estrelas (Olavo Bilac)
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."